Por Rodrigo Lopes de Barros
(Publicado em Revista Pessoa, 30 de outubro de 2015. http://goo.gl/wruRz2)
Arrisco dizer: um filme de abordagem quase ficto-etnográfica. Se, como colocaria Jean Rouch, é bem possível que os africanos ao realizarem seus filmes vejam outra Paris (bem como os europeus certamente registraram Áfricas distintas das que experimentavam os seus habitantes, digamos, nativos), o que então pode alguém como eu – desenvolvido pelas margens do establishment cultural brasileiro, como um outsider – ver de um movimento literário da Zona Sul do Rio de Janeiro dos anos 1970? Um tempo-espaço que, obviamente, só pode me causar fascínio pela distância, exotismo e alteridade pela maneira que a mim se apresenta, e simpatia pela audácia de se proclamar “marginal”, quando o mais fácil seria seguir o rastro de movimentos e pessoas que hoje estão institucionalizados como alta cultura.
Não me restou saída a não ser trabalhar com esse paradoxo de uma tradição que me é ao mesmo tempo existente e alheia. Chacal: Proibido fazer poesia foi a possibilidade de imersão em questões político-estéticas ainda latentes de como abordar uma certa memória cultural que não está nem totalmente dentro nem completamente fora do que é o “Brasil” predominante ou do que sou eu mesmo – alguém impossibilitado por questões estruturais de possuir qualquer sentimento mais forte de pertencimento ou identificação com esse país e que tampouco pode se desvencilhar completamente dele.